Durante o crítico período de estiagem, a Brigada Gavião Fumaça do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins) desempenha um papel fundamental no combate aos incêndios que afetam diversas Unidades de Conservação (UCs) do Estado. Com 72 brigadistas altamente capacitados, distribuídos entre as Áreas de Proteção Ambiental (APAs) e os Parques Estaduais, esses profissionais enfrentam incêndios em regiões de difícil acesso, onde as condições climáticas adversas, como ventos fortes e baixa umidade, tornam o controle das chamas ainda mais desafiador.
Com a missão de proteger as nove Unidades de Conservação (UCs) em operação no Estado, a atuação da Brigada Gavião Fumaça tem sido decisiva em várias UCs, como a Área de Proteção Ambiental (APA) Lago de Palmas, que teve 5,77% de sua área atingida pelo fogo, e a APA Serra do Lajeado, onde 14,49% da área foi queimada. Na APA Ilha do Bananal/Cantão, 4,90% foram afetadas, enquanto a APA do Jalapão sofreu com 22,83% de sua área incendiada. No Parque Estadual do Cantão (PEC), o fogo atingiu 28,40%, e no Parque Estadual do Lajeado (PEL), 1,15%. Já no Parque Estadual do Jalapão (PEJ), 45,98% de sua área foi atingida pelo fogo. As informações são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O combate aos incêndios florestais nas UCs é realizado de forma coordenada e estratégica, incorporando práticas de Manejo Integrado do Fogo (MIF). As ações incluem a extinção das chamas, a prevenção de novos focos e a recuperação das áreas afetadas. O monitoramento contínuo das áreas protegidas permite a rápida detecção de incêndios e a mobilização eficiente da brigada, que utiliza técnicas manuais e mecânicas, como controle de linha de fogo, construção de aceiros, uso de sopradores e bombas costais. Em algumas situações, o Naturatins conta com o apoio da Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP/TO), por meio do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer), que viabiliza o rápido deslocamento das equipes para áreas de difícil acesso e facilita a identificação dos focos de incêndio, além do uso de drones e imagens de satélite para aprimorar a resposta.
O presidente do Naturatins, coronel Edvan de Jesus Silva, destacou a dedicação e o amor que movem os brigadistas. “Nossos brigadistas perdem o sono, arriscam suas vidas, enfrentam jornadas exaustivas e se distanciam de suas famílias. Tenho profunda gratidão por eles, pois vejo em seus olhos a paixão pelo que fazem. Sem amor, seria impossível exercer essa profissão", destacou ao reforçar que o trabalho exaustivo desses profissionais deve ser devidamente valorizado, destacando a importância do esforço em preservar a natureza e proteger vidas.
A gerente de Unidades de Conservação, Perla Oliveira, enfatizou a importância do trabalho da brigada, destacando que sua dedicação e experiência são fundamentais para a proteção dos recursos naturais. “É o momento de reconhecer o trabalho extraordinário dos brigadistas em nossas áreas de proteção durante o combate aos incêndios florestais. A bravura com que enfrentam as chamas em condições adversas é verdadeiramente inspiradora. Cada passo na linha de frente reflete seu compromisso e resiliência, mesmo diante do medo. As florestas que protegem são lar de inúmeras espécies e desempenham um papel essencial na biodiversidade de nossas UCs. Agradecemos sinceramente pelo trabalho vital que desenvolvem. A coragem dos brigadistas ilumina o caminho para um futuro mais sustentável. Continuaremos firmes ao lado deles”, frisou.
O trabalho dos brigadistas florestais vai além do combate ao fogo; é uma verdadeira missão de proteção e conservação. Esses profissionais enfrentam riscos constantes enquanto se dedicam a combater incêndios. Alessandro Nunes, brigadista da APA Serra do Lajeado, descreveu sobre a rotina intensa no combate às chamas durante o período de seca. Ele destacou que, logo após o término das chuvas, a brigada começa a identificar os pontos críticos e a realizar queimas preventivas. No entanto, este ano foi especialmente desafiador, com muitos incêndios em um curto período. “Tivemos semanas de trabalho intenso, combates em locais íngremes, perigosos e de difícil acesso. Mas, quando chegamos ao nosso limite físico, não estamos sozinhos. Sempre contamos com o apoio das brigadas municipais e estaduais, além da integração entre as UCs. Essa parceria nos ajuda a trabalhar com mais segurança e a enfrentar os desafios de maneira coordenada", explicou o brigadista.
Além do combate direto ao fogo, Alessandro destacou a importância da conscientização. "Nossa dinâmica envolve estar em constante contato com os produtores locais e com a população, sempre buscando conscientizar sobre os riscos e evitar novos incêndios. Este ano foi atípico, com um longo período de estiagem, baixa umidade e ventos fortes, o que torna tudo ainda mais propenso a incêndios. Por isso, o nosso trabalho tem sido ininterrupto."
Com emoção, Alessandro também falou sobre a satisfação e os desafios de ser brigadista. "É um sentimento misto de alegria e frustração. Alegria porque, quando conseguimos executar um plano e ele funciona, quando as ações preventivas dão resultados, isso renova nossas energias e nos motiva a continuar dedicando semanas a fio ao nosso trabalho. Mas também há frustração, nem sempre conseguimos extinguir todos os incêndios a tempo devido às circunstâncias adversas que enfrentamos. Além disso, muitas vezes lidamos com situações que colocam nossas vidas em risco, sem que haja muito o que possamos fazer", refletiu.
Alessandro ressaltou que, apesar dos desafios, sente-se realizado em exercer essa função. "Ser brigadista vai além de qualquer remuneração. É uma experiência profundamente significativa. Eu me sinto bem em estar em meio à natureza, e saber que faço parte de uma equipe dedicada à proteção e ao cuidado me proporciona uma imensa satisfação. Essa conexão me inspira a seguir em frente, mesmo diante das dificuldades", destacou.
O brigadista florestal do Parque Estadual do Lajeado, Romário Nunes, relatou sobre os desafios do trabalho em campo. Ele contou que, além da incerteza quanto ao horário de saída e retorno para casa, os brigadistas enfrentam áreas de difícil acesso, especialmente durante o período seco. “Às vezes, viramos a noite buscando alternativas para conter as chamas. A gente cai, se machuca, mas seguimos porque é gratificante ajudar a natureza e as pessoas”, afirmou.
No Parque Estadual do Jalapão, Natanael Alves, que atua como brigadista desde 2012, compartilhou sua experiência em um dos anos mais desafiadores de sua carreira. Ele destacou o combate direto ao fogo que atingiu a região do parque. “O fogo se espalhou intensamente, mas não recuamos. Sempre que avistávamos fumaça, estávamos presentes, enfrentando as chamas nas Dunas, nas serras e nas comunidades”, reforçou.
Natanael Alves recordou as longas noites que passou em campo, sem descanso, dedicando-se a controlar as chamas e proteger as áreas em risco. “Na Serra do Espírito Santo, subimos duas vezes para combater o fogo. Em uma dessas ocasiões, começamos às quatro horas da manhã e só descemos às seis da tarde. Outra vez, tivemos que passar a noite lá em cima, combatendo o incêndio. A Serra foi severamente atingida pelo fogo, mas, graças ao comprometimento dos brigadistas, conseguimos evitar consequências ainda mais graves. Subimos 800 metros e percorremos mais de 30 km no topo, dedicando a noite inteira ao combate às chamas. Também enfrentamos incêndios nas Dunas, onde a situação foi igualmente desafiadora, mas conseguimos controlar o fogo”, contou.
Outro brigadista do Jalapão, Salmeron Batista, que atua na APA há mais de um ano, falou sobre a importância do trabalho em equipe e do MIF. “Começamos o manejo em abril para evitar incêndios e proteger as propriedades e a natureza. Não combatemos sozinhos; trabalhamos em parceria com as brigadas do Parque”, explicou ele, enfatizando a união e o espírito de colaboração entre as equipes.
O brigadista Jobson Batista Vasconcelos, do Parque Estadual do Cantão, compartilhou sua visão sobre a relevância de seu trabalho na preservação ambiental. “Atuar na proteção da fauna e da flora é muito importante mim. Embora seja uma atividade árdua, no final vale a pena, pois estamos protegendo a biodiversidade das UCs", ressaltou.
Para fortalecer o combate aos incêndios, brigadistas de uma UC são frequentemente mobilizados para apoiar outras áreas protegidas, garantindo uma resposta mais eficiente e integrada nas regiões mais afetadas. Um exemplo disso é a atuação de Emanoel Soares, brigadista da APA Lago de Palmas, que foi ao Parque Estadual do Cantão para auxiliar no combate às chamas. Ele destacou a importância dessa integração. "Foi uma experiência muito enriquecedora. Além de conhecer novos companheiros, tive a oportunidade de enfrentar desafios variados, lidando com diferentes biomas. Essa troca de experiências entre as brigadas realmente fortalece nosso trabalho. A colaboração entre as UCs é fundamental para assegurar uma proteção contínua e eficaz da fauna e flora, especialmente nas áreas mais impactadas pelos incêndios", frisou.
Áreas protegidas
Responsável pela gestão das 13 Unidades de Conservação (UCs) existentes no Tocantins, sendo nove Áreas de Proteção Ambiental (APAs), três parques estaduais e um monumento natural, o Naturatins mantém nove em operação. Sendo elas o Parque Estadual do Lajeado (PEL), o Parque Estadual do Jalapão (PEJ), o Parque Estadual do Cantão (PEC), a APA Lago de Palmas, a APA Serra do Lajeado, a APA do Jalapão, APA Ilha do Bananal/Cantão, a APA Nascentes de Araguaína e o Monumento das Árvores Fossilizadas do Tocantins (Monaf).
Força-tarefa
Nessa quarta-feira, 25, o presidente interino do Instituto, Edvan de Jesus Silva, visitouo Projeto de Assentamento (PA) Manchete, localizado no Parque Estadual do Cantão (PEC), Unidade de Conservação sob gestão do Naturatins. O objetivo foi discutir ações integradas entre os órgãos estaduais para intensificar o combate aos incêndios florestais na região.
Acompanharam a visita o diretor-executivo da Defesa Civil Estadual, tenente-coronel Benvindo Queiroz e o secretário da Semarh, Marcello Lelis. A comitiva conheceu ainda o acampamento dos brigadistas, percorreu as trilhas utilizadas no combate ao fogo e dialogou sobre a realidade do trabalho executado pelos brigadistas. Além dos brigadistas do PEC, profissionais das APAs Ilha do Bananal/Cantão, Lago de Palmas e Serra do Lajeado se juntaram para um trabalho conjunto na localidade.
O presidente Edvan de Jesus Silva elogiou a dedicação dos brigadistas e reforçou o compromisso de fornecer o apoio necessário. "Estamos aqui para entender melhor as necessidades e garantir o suporte adequado para que possamos controlar os incêndios florestais”, afirmou.
O supervisor da Área de Proteção Ambiental (APA) Lago de Palmas, Abel Cardoso, com mais de 20 anos de experiência no Naturatins, explicou que, por ser uma área de transição entre os biomas Cerrado e Floresta Amazônica, o combate ao fogo no local exige medidas específicas. "Aqui, temos um material denso que facilita a combustão, o que demanda mais reforços. Embora tenhamos conseguido reduzir os focos de incêndio, precisamos de mais pessoas para realizar o monitoramento adequado da área", destacou.
Para o tenente-coronel Benvindo Queiroz, da Defesa Civil, “a visita foi importante para conhecer a realidade dos brigadistas, a realidade do combate, para vermos o que pode ser feito a curto prazo para reforçar a capacidade de resposta e assim aperfeiçoar a proteção ao nosso Parque. Com base nos princípios de atuação do Comitê do Fogo, a atuação integrada dos órgãos visa a preservação do meio ambiente”, ponderou.
Nessa quinta-feira, 26, ocorreu a terceira reunião da força-tarefa de enfrentamento aos incêndios florestais para encaminhar estratégias que reforcem o trabalho dos brigadistas da Brigada Gavião Fumaça.
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